O último ato da Revolução










O exemplo de Portugal e a sua revolução dos cravos
Ultrapassou as fronteiras deste pequeno país.
Tudo parecia possível, plausível, num Portugal moribundo,
De quotidiano cinzento dos dias do Estado Novo,
De arcaísmos e atrasos.
Empedernido!

Os estados-maiores da extrema-esquerda haviam decretado
Os valores seguros da verdade revolucionária:
O vanguardismo,
A ação autónoma de lutas,
A experiência de autogoverno,
A ocupação de fábricas,
A coordenação de órgãos autónomos,
A expropriação de terras e de habitações,
A gestão coletiva da produção e troca de bens,
A liberdade de expressão e do pensamento crítico.
Em suma,
A regulação como conceito,
Incontrovertido!

Tudo correntes modernas de emancipação social.
Mas o desfecho da revolução dos cravos deu-lhe o golpe fatal.
Acelerou a decomposição das correntes esquerdistas,
Anunciou a morte do comunismo ortodoxo.
A destruição da Sereia, até hoje, não reivindicada
Decretou o estado de falência do movimento de massas.
Escondeu o que fez porque já ninguém o absolveria do ato,
Só os esperaria a punição judicial. Um erro monstro!,
Imerecido!

Em 25 de Abril de 1975,
Dobraram os sinos pelos nove partidos da extrema-esquerda portuguesa.
As primeiras eleições deram 4,6% dos 91,7% de votantes.
Um final colorido!

A compreensão do que estava em jogo no País
Foi totalmente assimilado pelo povo que votou
Erradicando, definitivamente, esses partidos.
O esquerdismo desabrido!

As uniões de facto com o povo descontente
Perante dificuldades que grassam neste mundo globalizado
Permitem contendas desesperadas.
Ou um qualquer ato irrefletido!

Mas deixaram de ser governo.
Bem hajas, Povo!
Abençoada maturidade!
Perfeito final comedido!

A História julgou esta conceção de revolução social
O vandalismo da Sereia não foi julgado,
Nem criticado,
Nem condenado.
Porque não foi conhecido!

Todos o taparam.
Até as forças de segurança.
Até o comando dessas mesmas forças de segurança.
Foi o meu caminho para parte nenhuma!
Imerecido!

(Mar 1983)

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