Hino aos Amigos
Caminho
junto à estrada, fatigado, descrente!
Ressoa em meus corredores a pancada leve
Na porta da memória entreaberta.
É o passado que entra pela fresta
Enquanto minhas incoerências se agitam.
Ressoa em meus corredores a pancada leve
Na porta da memória entreaberta.
É o passado que entra pela fresta
Enquanto minhas incoerências se agitam.
A solidão aguarda, ensombrada,
novas fugas, novos abandonos.
Continuo junto à estrada (qual precipício sem dono)
Esperando que me salvem do esquecimento,
Que puxem os pés descalços para longe do lago gélido
Que vislumbro nas trevas.
Continuo junto à estrada (qual precipício sem dono)
Esperando que me salvem do esquecimento,
Que puxem os pés descalços para longe do lago gélido
Que vislumbro nas trevas.
Sei que estou só,
Que os deuses esqueceram a luz,
pois
Creram na ambiguidade,
Creram na ambiguidade,
Na incerteza se um dia pedirei
perdão por ter nascido
Ou ter usado a semântica das
palavras para encaixotar gente pequena.
A terra pútrida grita pelo sal
da vida.
Eu clamo contra esta divagação, suplico um colo
Onde debruce meu pensamento e aqueça o inverno que vivo,
Perene, rigoroso, gélido.
Eu clamo contra esta divagação, suplico um colo
Onde debruce meu pensamento e aqueça o inverno que vivo,
Perene, rigoroso, gélido.
Alguém que na estrada passa
grita: “Sorri, homem, sorri!”
Para quê – expludo eu – Para quê?
A vida levou-o consigo e deixou a resposta na caixa do silêncio.
Um outro alguém que lhe segue, exclama:
“Vale a pena tanta tristeza? Agarra no branco, deixa o negro! Assim, terás mais luz!”
Para quê – expludo eu – Para quê?
A vida levou-o consigo e deixou a resposta na caixa do silêncio.
Um outro alguém que lhe segue, exclama:
“Vale a pena tanta tristeza? Agarra no branco, deixa o negro! Assim, terás mais luz!”
E eu volto a explodir: Na vida
tudo agarrei, não distingui o preto do branco, ou luz da escuridão!
Lutei contra gigantes e anões
sem cuidar de quem ganhava!
Fui sôfrego na paixão, amei
os meus amigos, cuidei dos velhos.
Se me esqueci de alguém, foi
de mim mesmo!
De novo, não ouvi resposta da vida que passou.
De novo, não ouvi resposta da vida que passou.
Um terceiro se abeirou de mim
e, em surdina me diz:
“Sabes do que precisas? Que a
vida mostre respeito por ti!”
E abalou, como os outros, levado pela vida, aquela mesma vida que não mostrava apreço por mim.
E abalou, como os outros, levado pela vida, aquela mesma vida que não mostrava apreço por mim.
Sentei-me numa das pedras do
caminho e repousei.
A aurora dava os primeiros suspiros do dia.
Foi, então, que deixei meu pensamento fluir.
Meu coração saudou a primavera que surgia, senti a exaltação dos meus fluidos.
A aurora dava os primeiros suspiros do dia.
Foi, então, que deixei meu pensamento fluir.
Meu coração saudou a primavera que surgia, senti a exaltação dos meus fluidos.
Na estrada corriam vidas
amargas, muitas desilusões,
Signos desencontrados,
Mas vi chegar amigos com
fantasias iluminadas.
Há vidas que souberam parar por mim!
Afinal, não estou sozinho!
Minha solidão desassombrou-se, as incoerências acalmaram.
Minha memória fechou a porta da recordação.
Há vidas que souberam parar por mim!
Afinal, não estou sozinho!
Minha solidão desassombrou-se, as incoerências acalmaram.
Minha memória fechou a porta da recordação.
Continuo o meu caminho junto à
estrada! Perto do precipício sem dono.
Mas menos fatigado, mais crente!
Mas menos fatigado, mais crente!
(Jan 2008)
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