A Revolução 1







A obsessão das vitrinas conjeturava a noite mais quente do ano.
Em momento ainda de euforia
As bolsas vazias não impediam as pequenas loucuras.
O ar agreste de Novembro prometia época natalícia adequada.
Vivia-se há três anos a revolução com exuberância,
Em ânsia e na marginalidade dos grandes acontecimentos.
A intranquilidade já rondava o silêncio dos homens de génio
Numa ansiedade de fim de festa desarranjada.
A indiferença substituíra a emoção
No terreno desocupado da nossa criatividade.
A alegria fantasiosa dos primeiros dias
Fundira-se em sentimento disfarçado de mal-estar
De quão descabida fora a contenda praticada.
Já se media o descalabro irremediável
Época em que tudo parecia possível.
Zurzia-se a alegria de viver
Na sensação ilusória de estar nas mãos de cada um
O poder da felicidade decretada.

(Nov 1975).

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