Tu






Conheci-te no meio de urtigas reluzentes
Picando nossos corações
Sem ódio, mas sem renúncia ao ciúme.
Lutei em cambiantes diversos
De brilho cândido e enganador na vertigem
Dos amores acabados, virtuais, de cores pretas
Que reluziam prata saída de olhos lânguidos,
Provocadores…sem sentido.
Ganhei a custo tua mão, teu sorriso, tuas lágrimas.
Fui candura dos teus males,
Amante obsceno porque ávido, embriagado
Na beleza dos momentos,
No som exaltado da luxuria.
Vivi sonhando por alfarroba adocicada, comendo iguarias
Nos teus seios abertos, suculentos.
Tempo de cantores de luz penetrante,
Sem olhar o redor, sempre embebido nas pedras da calçada,
Nos crisântemos da cidade crescida,
No regaço da musa.
Mas Deus e o Diabo disputavam a Lua mirrada,
Coberta de sombras
Onde as urtigas da vida sussurravam, tenebrosas.
Fizemos do silêncio a arma dileta dos campos sombrios,
De ciúmes extravasados, de canduras enviesadas,
Corrosivas, amaldiçoando e fingindo
Cantares altivos.
Nós, de voz única, amarrávamos o Amor
Às portas da cama, às grades da mente,
Ao pó dos sobrados podres dos sótãos.
Calaram nossas vozes apavoradas da subtileza
Alcançada.
As mentes sorriam deixando sua negritude
Escorrer palavras quentes, afortunadas, empáticas.
Meses de embuste.
Apascentei este rebanho de falsos duendes,
Vi minha musa agarrada a preconceitos,
Ao rio das lamentações,
Ao amargo das vozes,
Ao ciúme encaixotado,
Sem brio,
Falacioso,
De rosas na mão e pés calçados de suavidade
Subterrânea.
Perdi o sonho, estremeci no esquecimento,
Hibernei nas sombras da estrada,
Chorei, maldisse, rasguei véus,
Trepei paredes do inconformismo,
Gritei ao vento, esmurrei a temperança.
Sozinho na estrada quase sucumbi…
As cotovias chilrearam a canção
Da manhã, despertando alaudes síncronos.
Mãos quentes, limpas, brilhantes,
Estenderam a passadeira.
E nós revivemos!
Seguiram-se dias, meses, anos de beleza,
De filhos nascidos nas entranhas,
E outros paridos do coração.
Gentes criando laços, balouçando nas árvores,
Sorrindo ou chorando a felicidade da entrega,
Do apaziguamento, da benesse.
Criámos resiliência como escudo,
Amámo-nos fugindo das sombras tenebrosas
Num elo secreto e fecundo.
A ternura um prato celeste,
A harmonia a benesse dos arcanjos,
Luz perene do nosso casulo.
Mas vieram os desencontros da sorte.
O poema da vida esvaiu-se na noite
Tempestuosa.
Teus olhos que falavam criaram tapumes
Disformes, sem cor, sem brilho
Sem fulgor.
Fugi para o canto das lamentações
Refugiei-me no silencio, rezei,
Encomendei as Avés numa arrebatada
Paixão, expus meu peito à dor, ao inconformismo.
Deitei-me chorando cada minuto
De Amor que não clamei,
De Carinho que não ofereci.
Hoje durmo sem dormir,
Busco a razão do comensurável
Sem crer nos espelhos das almas.
Sinto o horror do silencio,
Da fadiga da busca incessante,
Da solidão que abrasa,
Do inconformismo,
Do poema inacabado,
Da vida cortada a meio,
Do chão corroído que meus pés lavram,
Da melancolia das cotovias que ainda cantam,
Da minha alma que não parte
Que se deixa ficar, sem tempo,
Junto à cama onde jaz meu Amor.

(Jan 2015)

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