Sabado 1983










Tínhamos acordado tarde.
Sábado, dia convidativo para descanso.
O último fim-de-semana de outros, muitos,
Passados em angústia permanente.
Na segunda-feira, estariam presidindo a uma cerimónia
De transferência de poderes para novos acionistas.
Suecos, também empresários,
Detentores de um Know-how industrial, inédito em Portugal.
Seria o culminar de uma luta de três anos,
No país esfrangalhado pela Revolução de Abril
Que insistia em não permitir o sol aos patrões,
Aos empresários ou aos donos do que quer que seja.
A revolução estava exangue, o PREC eternizava-se,
Os governos esvaziavam-se nas ruas
E na incapacidade de repor a justiça.
Na segunda-feira,
A contenda estaria finda,
O repouso enfim instalado,
A família, sem temor, poderia recomeçar nova vida.
Seria a esperança no futuro,
Longe do passado convertido num pesadelo.
Forças adversas perseguiam,
Negócios teimavam não dar certo.
O medo estampado no subconsciente,
O constante olhar sobre o ombro,
Todo o transeunte um potencial assassino.
Meu Deus, como se passara o último ano!”
Dia aproveitado para descontrair,
Dormir mais, pensarem em si, na envolvência do casal,
Dando espaço aos cinco filhos,
Já àquela hora levantados, brincando ou lendo seus livros prediletos.
Um sábado memorável, pelo descanso, pelo futuro e,
Sem dúvida,
Pelo terramoto que se instalou em suas vidas no dia seguinte, Domingo.


Comentários

Postagens mais visitadas