Uma carta...para TI! Do meu Diário



Sabes? Hoje fui a Lisboa.
Uma pequena extravagância das minhas parcas posses.
Quis revisitar os nossos lugares, os locais que marcaram a nossa memória, aqueles que hoje aguentam esta triste vida, sem ti, sem a tua face reluzente, plena de vida, sempre transbordante de entusiasmo.
Sim, acredita!
A minha existência sem a fala dos teus olhos é dolorosa. Só a esperança de te encontrar lá mais longe me dá alento, a necessária força para continuar.
Eu sei, não precisas de me recordar! Tenho os nossos filhos, como tu dizias, “os meus, os teus e os nossos”, os “das entranhas e os do coração”.
Lembro isso todos os dias, todas as horas, quando miro a tua cara nas inúmeras fotografias espalhadas pela casa. O meu bordão, para o caminho que me resta.
Pois fui a Lisboa, reviver...
O meu coração saltou quando entrei na rua no “nosso bar” e quase tive uma vertigem ao olhar ao longe o aspecto disforme do prédio.
Meus Deus, o século XXI transformou-o, já não existem aquelas escadas onde nos cruzámos, o cabeleireiro donde tinhas saído, o bar onde consumíamos o nosso amor nas palavras, nos sentimentos, nos olhares...
Meu rosto empalideceu.
Não é justo que a civilização nos tenha levado o nosso nicho, o aconchego de todos os dias daquele namoro louco a que nos entregámos.
Abatido virei a cabeça para trás e de novo a voragem da cidade confirmou-me a inexistência do café onde tomávamos os nossos olhos ávidos acompanhados pelo toque das nossas mãos.
A loucura do meu olhar fez-me perscrutar o “nosso dancing” onde bailávamos os corpos quentes de desejo. Vi a porta, fechada com o cadeado, o pó entranhado nas dobradiças evidenciando que o acesso àquele espaço, onde ainda consigo ouvir a melodia  “the fillings”, estava encerrando a memória dos nossos tempos.
Vim destroçado...
(Mar 2015)

Comentários

Postagens mais visitadas