Do meu Diário (3)



Lembras-te, meu Amor?
Ontem aconteceu história no nosso pequeno mundo.
Logo de manhã, fui buscar o meu pequenino filho com o intuito de passar o fim-de-semana connosco. Era um tenro hábito pois a mãe não abria mão dele muitas vezes, como terna (delicada) era aquela figurinha de gente, de sorriso triste. Tinha um ano e meio.
Lembro-me como se tivesse acontecido ontem.
Foi há 35 anos.
Meu Deus, tanto tempo! Afinal vivemos juntos há 35 anos.
Se agora choro o teu “abandono”, em boa verdade, vivemos uma enorme vida juntos, pois a intensidade com que a experimentamos sobrepõe-se, em muito, à normalidade da contagem dos anos.
Recordas-te da tua expressão quando o tomaste nos teus ávidos braços?
O que falaram os teus olhos?
Lembras a energia que emerge naquela fração de segundo em que uma mãe toma em seus braços a criança que nasceu? O poder que é dar ao mundo um ser inteligente, alguém que na sua rota da vida pode ser a pedra de algo grandioso?  
Naquele instante nascera, para Ti, um filho! Tinha-o ido buscar a uma mãe que o deitara num berço sem braços de carinho. Foi o primeiro dia do Teu filho do “coração”, como tu dizias com voz embargada.
Como foi vivido…
A guerra entre a Biologia e o Amor foi longa. Muitas tripas foram fabricadas naquele nosso lar de Oeiras. Mas vencemos todas as batalhas…
A tua felicidade foi tamanha quando a justiça to “entregou oficialmente”, dois anos passados.
Lembras-te, meu Amor? Será que o teu diáfano véu, que hoje te cobre, ainda te permite recordar o Amor que nesses tempos brotava a jorros dos nossos corações de pais?
Bem o desejo! 
Os meus beijos serão portadores dessa bênção?
(Fev 2015)

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