A Loucura
Aos
dezoito vi-me na formatura de autómatos, erguendo nos mesmos gestos,
os violinos encimados. Foi o tempo da loucura colectiva.
Vagueio
pelos meus anos passados, tento discernir se valeram o esforço.
Esse
tempo de loucura fez pulsar a magia da ligação feminina. Errei,
casei com a nuvem e não vi Juno que estava mais além.
Curvei-me
ao peso dos silêncios.
Recolhi-me
numa filha desejada como inspiração das paisagens. Aceitei a
segunda na lembrança do castelo celestial.
Sai
magoado com pálpebras descidas nas noites.
Meu
ofício foi abrir sonhos de canduras variadas, descerrei a lápide
final do matrimónio com quatro luzes inconfundíveis de arte na
provocação.
Destruí
o ninho, desmanchei a cúpula interna da harmonia que, fugaz, saiu
correndo pelas janelas da vida.
Como
ela se sabe apressar, inspirou-me a procura da musa de meus sonhos
acordado.
Carrego,
hoje, a cruz que a todos pesa mas alegrei o mundo com mais duas
estrelas brilhantes do deserto e soube amar até à exaustão dos
sentidos, alimentei a alma apoiado num braço forte de vento que
solta as estradas da existência.
Os
anos saltaram a sua sorte sem mostrar a dureza das pedras.
Sei
que foi ontem o primeiro dia dessa ventura porque o coração ficou
suspenso na progressão do tempo.
Recebi
o riso e os lábios dessa musa, com a mágoa de não a ter procurado
desde que nasci.
Todos
os momentos sem ela foram perdidos para o universo da eternidade.
Hoje,
com a corrupção das folhas e dos musgos, sinto que deixei escapar
dias cheios de segundos de amor que não vivi.
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