Resistir, por vezes, é olhar o passado (15º ciclo)

Hoje, temos o Dinheiro e o Trabalho.
O primeiro, o Capital, é constituído por uma miscelânea de conceitos, poupança, juros, investimento, expectativa de rendimentos, decisão dos agentes económicos. É uma entidade abstracta e como tal deveria ser imprevisível o seu trato. Mas, pelo contrário, as suas decisões são sempre iguais, para se multiplicar actua perante estímulos que desencadeiam reacções directas à obtenção do lucro máximo, sem atenuantes ou condicionamentos. Como se disse, destrói economias para depois fazer a sua recuperação e aproveitar a multiplicação. Por detrás existem pessoas monitorizadas, avançam, sem necessidade de análise dos vector condicionantes. Lembra a máquina que se liga e começa a trabalhar. Existe uma pessoa que carrega no botão mas a acção está programada. O homem segue a máquina, actua segundo ela. O resultado final é a multiplicação do dinheiro, deixando atrás de si as consequências nefastas ou positivas que resultarem.
Exemplo: As Agências de Rating têm uma papel moralizador, de apontar o risco, diminuir as flatulências dos diversos governos europeus. Modo de actuação: qualificar os activos financeiros dos países e quantificá-los. Objectivos: dar a conhecer a capacidade de pagamento das dívidas.
Há muitos anos que o fazem, a soldo dos próprios países que lhes pedem a sua avaliação. Avaliação, que deverá ser independente.
Este o âmago da questão.
Há muitos mais anos, os Estados aprenderam a pedir dinheiro uns aos outros. Os valores de divida são colossais. Só em 1913, a Inglaterra tinha investimentos de compra de dívida de outros países no valor de 1,1 biliões de Libras. Hoje, os Estados Unidos da América, devem cerca de 10 mil biliões de Euros.
Nunca as agências de rating se preocuparam com o volume de endividamento. Os Estados estavam comprometidos à liquidação dos juros da divida, isto é, cada país liquidava a horas o rendimento do capital. Isto foi sempre o que interessava a cada Estado, o seu rendimento a tempo e horas, como qualquer emprestador que deseja remuneração do seu património. Como um senhorio investe na compra de uma casa e esta é o seu património, e a coloca no mercado de arrendamento. Este investidor interessa-se por duas coisas: a garantia do imóvel ser bem tratado e ter a renda paga todos os meses. É disso que ele vive.
Nos países, um dos patrimónios é a moeda. Fabrica-a através do seu Banco Central. A sua fabricação está condicionada a regras, entre elas a contenção da inflação. Fazer a rotativa andar em demasia, inunda o mercado de moeda e ela desvaloriza em função das outras em circulação. Aparece, assim, a inflação.
Ora, os Estados investem na compra de títulos de dívida publica – a tal hoje dívida soberana – através de transferência da sua moeda nacional – divisas para o país vendedor dos títulos – contra os referidos títulos que depositam na sua casa forte. Ao Estado devedor compete pagar o juro – sempre em taxas pequenas, logo, suportáveis (as taxas são negociadas para cobrir o risco de difícil cobrança) – e, com isso, prover um rendimento certo ao Estado investidor.
Este modo de actuação evita o recurso a mais papel moeda por escassez de dinheiro em circulação. Quem tem mais solvabilidade envia a sua moeda em troca de papel de dívida e recebe rendimento.
Um negócio fácil e limpo. Há apenas que percepcionar um certo equilíbrio nas contas do Estado devedor para que os juros na sua globalidade não estrangulem o seu desenvolvimento.
Entendido?
Ora as agências de rating acordaram, em 2008, debaixo de uma enorme surpresa: a falência do Banco Lehman Brothers, o quatro maior banco dos EUA e a quem estavam obrigados a reagir aos indicadores de risco.
Caiu o Carmo e a Trindade.
Como não previram os acontecimentos que estavam debaixo dos seus olhos tecnicistas?
Acordaram para a vida...
Olharam, então, uma realidade que nascera em 2002, o Euro. A paridade das duas moedas, euro-dólar, fora o conceito de parto da primeira. Duas moedas fortes e “irmãs”. O certo é que o mercado monetário flutuou bastante e veja-se como: Janeiro de 2002, o Euro valia 0,9 Dólares. No fim desse ano, 1,02. Mas em fins de 2004 já atingia mais de 1,3 Dólares. E em anos mais próximos, chegou a ultrapassar a fasquia do 1,4.
Ora, uma flutuação de 40% é demolidora para estabilidade de qualquer mercado.
Os EUA habituaram-se há muito a que o dólar era a moeda de refugio da maior parte dos países e dos negócios.
Isto é, um Valor de Mercado extremamente decisivo para a sua economia e preponderância da América no mundo.
Muito se inverteu e a guerra trava-se em tudo o que é factor económico. As agências de rating – que são todas americanas – ajudam, com a sua suposta “independência”.
E entraram numa guerra “suja”. Coíbo-me de a analisar pois os factos diários são conhecidos.
E foi assim que alguém – as ditas agências – se lembrou que existiam dividas nos países europeus e precisavam de ser equacionados os seus pagamentos. Foi a corrida dos políticos, assustados – ainda hoje o estão – e determinaram regras e mais regras a todos os países devedores para as liquidar em pouco tempo – como isso fosse possível – começando pelos seus deficits crónicos – esses, sim, os grandes causadores de mais divida.
Conclusão: Temos uns cavalos de batalha no terreno, saltando tudo o que seja obstáculo, com o objectivo de apontar defeitos (as agências de rating) e os países europeus da União a não se entenderem como fechar a boca a essa gente – era o que gostavam que se fizesse, mas não podem – e sem soluções para o surto de desemprego que assentou na Europa e as turbulências sociais que o futuro se encarregará de parir, fatalmente.
Estamos, sem sombra de dúvida, na Era do Dinheiro. Imparável.

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