Um terceiro cheirinho do meu romance "Caminhos Trilhados":
Um terceiro cheirinho do meu romance "Caminhos Trilhados":
Uma das personagens: Elizabeth
Uma das personagens: Elizabeth
Coimbra
sempre foi considerada a cidade dos estudantes.
Desde
o reinado de D. Dinis que essa é uma verdade insofismável.
Primeiro, um burgo de dimensões reduzidas mas onde imperava o culto
das letras e do saber. Cresceu como entidade arreigada na proporção
directa do número de estudantes que a procurava e do conhecimento
que transmitia.
Até
ao século XX, foi a terceira cidade portuguesa, mas deixou-se
afundar na marginalidade dos números quando se permitiu a profusão
do saber por mais cidades e não se entendeu que outras vivências se
deveriam impor em paralelo com a Universidade. A Economia da região,
o saber-fazer depois do saber, não foi pensada em adequação e hoje
é, talvez, a saudade de quem parte que a mantém grande no coração
dos homens letrados.
No
entanto, é uma bela cidade. Se soubermos percorrer suas ruas e nos
debruçarmos sobre os cantos da cidade-velha encontramos as razões
dessa saudade, da constante sobrevalorização dos seus dotes
cantados pelo admirável fado coimbrão. Há quem diga que parou no
tempo, há quem acredite que está melhor assim do que se projectada,
como muitas, como cidade para o futuro, que a tradição vale muito
mais do que o progresso, que a saudade se fortifica na beleza do
reencontro com um passado perene e, portanto, sempre presente e que o
futuro, muitas vezes, se faz desse passado, se enraíza
no presente e, por isso, se projecta no futuro.
Assim,
Coimbra será lembrada sempre pelo que foi, o que é e o que
representará no futuro de muitas gerações de jovens estudantes.
Esse,
o seu legado perene!
Elizabeth,
viúva, 42 anos de juventude e lealdade, confiável 200%, o que
significa sinceridade absoluta ou incapacidade de uma atitude menos
correcta, pensa Coimbra deste modo. E não há ninguém que a demova
a olhar a sua cidade com um olhar diferente do ângulo por si
proposto. Até porque nasceu lá, cresceu, fez-se mulher – e que
bonita – brincou com os homens o perigoso jogo da sedução,
distribuiu amor verdadeiro aos amigos, aos amantes, ao marido que lhe
coube na sorte nesse ousado enrolamento. Hoje, viúva, estado para
onde foi atirada por um desastre rodoviário que levou seu amado
homem para longe de sua vista, depois da lealdade de uma relação
intensa, a dois, bela e, portanto, saudosa, entende agora que está
chegado o momento de olhar o mundo que a rodeia com olhos de
solidariedade e de fraternidade para com o seu semelhante.
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