Resistir, por vezes, é olhar o passado (6º ciclo)
Os
paraísos fiscais adaptaram-se rapidamente a estas suaves directivas.
No
Liechtenstein, país que tem 33.000 habitantes, já há mais de
50.000 fundações. O principado do Liechteistein tem mais empresas
que cidadãos, 80.000 empresas para os 33 mil habitantes, muitas
apenas com domicílio uma caixa postal. Em 2009, o direito local
permitia a constituição de fundações com fins privados. Ou seja,
uma pessoa ia com uma mala cheia a um escritório de advocacia e
montava a sua fundação. O imposto sobre estes capitais era
irrisório: 0,1% para capitais inferiores a dois milhões de francos;
se for mais, a taxa baixa para 0,075% e se o montante ultrapassar os
10 milhões de francos, a carga fiscal quase desaparece: fica nos
0,005%.
E
os leitores perguntam: No fundo, é assim que se lava o dinheiro?
Claro,
através duma série de operações sucessivas: colocação,
montagem, integração e centrifugação entre cada uma delas. A
colocação ou pré-lavagem consiste em transferir dinheiro líquido
e divisas do local de aquisição para estabelecimentos financeiros
de diferentes praças, repartidos por uma série de contas. Esta
operação não requer malas cheias de notas. Os bancos ajudam a
enviar os fundos até aos paraísos fiscais. A evasão no
Liechtenstein fez-se, segundo Eduard Güroff, fiscal alemão anti
fraude, mediante simples transferências. Um banco, por exemplo,
junta numa conta 10 milhões de euros de vários clientes na Alemanha
e manda para o Liechtenstein como se fossem próprios, sem nomes.
Meses depois, envia uma nota esclarecendo de quem é cada parte. O
banco do Liechtenstein cria então uma fundação numerada para cada
cliente. Como só o banco e o cliente sabem de quem é a fundação,
o sistema é fácil, limpo e opaco ao fisco.
A
montagem impossibilita encontrar o fio da meada, a ponta ou origem
dos proveitos ilícitos, dada a multiplicação de transferências de
uma para outra conta, em diversas entidades bancárias situadas em
paraísos fiscais... e reconversão dos fundos, em títulos e
investimentos, canalizados para vários mercados financeiros,
utilizando as câmaras de compensação.
Dá-se,
assim, a integração legal dos capitais branqueados, reagrupados em
contas bancárias visíveis e preparados para serem utilizados de
forma totalmente legal.
Isto
é, as empresas de compensação actuam como centrifugadoras durante
todo o processo de lavagem para ir eliminando, em diferentes fases, a
sujidade do dinheiro mal ganho. As mesmas técnicas e os mesmos
circuitos servem também para a gestão secreta das fortunas dos
governantes corruptos, o dinheiro da droga, o dinheiro obscuro do
desporto ou do mundo do espectáculo, a evasão fiscal dos lucros das
multinacionais para as filiais offshore, o financiamento ilegal de
partidos políticos, o pagamento de comissões ilegais sobre
contratos governamentais, o dinheiro da máfia, do negócio de redes
de prostituição, do comércio de órgãos, etc…
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