Resistir, por vezes, é olhar o passado (4º ciclo)


Foi o boom dos anos 90, a euforia financeira que não via risco em nenhuma operação. Esta pirâmide de dívida acabou em colapso, no ano 2001, deixando cadáveres como o da Argentina. O endividamento naquele país alcançaria, nesta data, a cifra recorde de 132 mil milhões de dólares, antes de cair na banca rota, enquanto que o capital evadido por dirigentes políticos e sindicais, patronato e outros, rondava os 120 mil milhões.
A Rússia, nessa mesma altura, perante uma evasão de capitais perto dos 25 mil milhões de dólares por ano, solicitou um empréstimo do FMI em 1997 para evitar a banca rota. O empréstimo desapareceu numa offshore a partir de um banco desconhecido situado nas ilhas britânicas do Canal, passou para Chipre, depois para a Suíça e finalmente para os EUA, donde tinha inicialmente saído.
Muitos dos empréstimos do FMI para países africanos ou latino-americanos foram completamente absorvidos pela evasão de capitais para centros offshore.
Estes, especialmente criados para depositar, guardar, investir ou recuperar dinheiro. Um serviço sofisticado de assessoria, escritórios, procuradores, empresas de auditoria e, claro, da banca legal especializada neste tipo de operações. Usufruem do necessário sigilo bancário, e sem que a administração do paraíso fiscal aceite qualquer colaboração ou intercâmbio de informação com outras administrações.
As empresas ou pessoas individuais criam Fundações ou Trusts, com domicílio fiscal num desses territórios e deslocam para aí o seu dinheiro ou activos financeiros.
A capacidade de evasão era total. E os políticos sabiam-no.
Só que foram sempre imunes à mudança destes ganhos loucos.
Para que os lucros obtidos em vendas imobiliárias ou em acções, heranças e legados, voltassem a entrar em circulação legal gozavam da colaboração das câmaras de compensação que filtravam as operações e permitiam fazer depósitos em contas prontas para gastar o dinheiro livre de impurezas.
Outros processos de fazer o mesmo vezes: centralizar a gestão financeira das sociedades em operações de intermediação comercial ou refacturação ou, mais habitual, o investimento através de holding para que os lucros fossem tributados no paraíso fiscal.
A liberdade absoluta dos movimentos de capitais a nível mundial e a comunicação electrónica, permitiram que as operações se realizassem a partir de qualquer empresa ou banco. As transacções são simples apontamentos electrónicos entre as diferentes entidades. O papel, os títulos ou os documentos ficam depositados na origem e o registo notarial nas câmaras de compensação e liquidação.

Comentários

Postagens mais visitadas