Resistir, por vezes, é olhar o passado (11º ciclo)

Muitos bancos alemães estão sendo investigados pelas autoridades do país. Um deles, o Metzler, da cidade de Frankfurt, ajudava clientes endinheirados a sonegar impostos... Mas, no perímetro europeu, coisas como mega-fraudes e remessas clandestinas para paraísos fiscais não são uma exclusividade alemã. O governo britânico também comprou informações sobre cerca de uma centena de britânicos que, da mesma forma, possuem contas ilegais no Liechtenstein. Além disto, as autoridades alemãs comunicaram aos responsáveis pelas finanças de França que 200 milionários gauleses estão metidos no mesmo caso, que podem chegar à evasão de 1 bilião de euros.
Países como Espanha, Itália, Noruega, Finlândia e Suécia já requisitaram à Alemanha os nomes dos seus cidadãos encontrados nos DVDs.
A burguesia reagiu.
O presidente da federação de bancos da Suíça assanhou-se, dizendo que os métodos de investigação da agência alemã de espionagem eram dignos da antiga Gestapo.
Até a nobreza reagiu: o príncipe Alois, de Liechtenstein, acusou a Alemanha de violar a soberania do seu principado.
A extensão das fraudes ainda vai render muitos estudos sobre o grau de honestidade dos empresários e gerentes dos vários países europeus.
Mas tudo isto será difícil justificar perante as pessoas sujeitas a tributação impiedosa que a crise nos está a todos sujeitando.
Descobriu-se que um funcionário do banco francês Société Générale originou perdas foram 7 biliões de dólares.
A Société Générale não comentou as declarações de funcionários antigos e outros actuais, segundo os quais o banco estimula que seus funcionários façam negócios arriscados e que, por vezes, ultrapassem os limites.
Num discurso na Organização das Nações Unidas, o presidente Lula da Silva exortou os empresários a unirem-se para defender a aplicação de uma taxa aos paraísos fiscais. "Se tivermos forças para taxar os paraísos fiscais, quem sabe poderemos ter um bom dinheiro para enfrentar a questão da fome", argumentou ele. "Uma taxa mínima de 0,01% proporcionaria US$ 17 biliões por ano e já seria uma extraordinária contribuição."
A afirmação foi feita a uma plateia de cerca de 200 empresários, no encontro do Global Compact, que reuniu executivos interessados na melhoria das condições de trabalho e no cumprimento das Metas do Milénio. "Houve um tempo em que eu acreditava que quem estivesse com fome ia fazer a revolução", disse. "Quem está com fome não faz revolução: subordina-se. A fome leva à submissão do ser humano, enfraquecido, eu diria até moralmente combalido para enfrentar a situação." Lula defendeu mais uma vez a mobilização contra o que chamou de escandalosos subsídios dados pelos países ricos a seus agricultores. "É importante que cada empresário possa chamar a atenção de seu governo para as graves distorções e injustiças que o proteccionismo provoca. Com um terço dos R$ 300 biliões gastos em subsídios anualmente, alcançaríamos as Metas do Milénio no prazo que nos comprometemos", afirmou, referindo-se a 2015.
Muito aplaudido, Lula citou a taxação do comércio de armas como alternativa para compor o fundo mundial de combate à fome. "Não existe arma de destruição em massa maior do que a fome. Ela não mata soldados: mata crianças e adolescentes." Pelos seus cálculos, a medida pode render por ano mais de US$ 20 biliões.
Outra proposta que citou foi a de um imposto sobre a facturação das empresas. Ele criticou os países ricos, dizendo que não estão cumprindo a promessa de destinar 0,7% do PIB em ajuda aos países pobres. "O que está em jogo é o mundo que nós queremos construir: um mundo marcado por assimetrias e pela omissão diante da exclusão e da miséria ou capaz de transcender a irracionalidade, conciliando eficiência económica com justiça e progresso social", argumentou. "A exclusão social é a face oculta da miopia económica."

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