Resistir, por vezes, é olhar o passado (10º ciclo)
Mas
os dias de bonança podem estar chegando ao fim nos oásis
anti-fisco.
A
partir de iniciativas da Alemanha e da França, a OCDE, quer aumentar
a pressão sobre os países que não cooperam na luta contra a
sonegação de impostos. A Suíça, que oferecia condições que
convidavam os contribuintes a sonegar, já aderiu a regras básicas
de intercâmbio. A Áustria e Luxemburgo foram banidos das listas dos
paraísos fiscais.
Por
enquanto, Andorra, Liechtenstein e Mónaco estão na lista da OCDE.
Segundo a organização, mantém-se 25 países com um nível
excessivo de sigilo bancário, combinado a impostos muito baixos ou
nulos.
100
biliões de euros é quanto a União Europeia perde com a fuga de
dinheiro para os chamados paraísos fiscais fora dos Estados membros.
A
evasão aos impostos dentro da Comunidade, combinada com a utilização
dos paraísos para encobrir práticas de corrupção, crime
organizado e actividades terroristas, está entre as razões que
levaram a Alemanha a declarar guerra aberta contra a evasão fiscal
por parte de cidadãos europeus.
A
discussão tem anos e não parece ter fim à vista.
Paris
já se declarou aliada de Berlim na luta contra os paraísos fiscais,
depois de o ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, ter
levado o assunto à reunião mensal do Ecofin, em Bruxelas, no
seguimento do escândalo que revelou que várias centenas de cidadãos
alemães desviaram fundos para o Liechtenstein.
O
apelo de Steinbrück resultou no pedido para que a Comissão Europeia
prepare alterações à directiva da tributação da poupança que,
dado os inúmeros buracos legislativos, tem permitido desde sempre
que, com relativa facilidade e em quase total segurança, os europeus
mais ricos empreguem o seu dinheiro em locais livres de impostos,
como o Mónaco, Andorra, ilhas Caimão ou o Liechtenstein.
Ainda
assim, alguns fiscalistas afirmam que a revisão da directiva da
poupança agora em estudo por Bruxelas poderá não ser suficiente,
por si só, para combater a evasão fiscal, já que, dizem, há a
possibilidade de os fundos serem, nesse cenário, desviados para
outros paraísos fora da Europa, como Singapura ou o Dubai.
Alguns
exemplos: Em 1995, a Deutsche Post foi vendida pelo governo Alemão,
custando ao povo a perda de uma área estratégica de sua economia e
o fim de 150 mil empregos no sector público. Há pouco tempo o
presidente dos correios alemães privatizados, Klaus Zumwinkel, foi
obrigado a demitir-se depois que veio a público a informação de
que ele havia sonegado 4 milhões de euros ao fisco de seu país,
tendo depositado o dinheiro num reconhecido paraíso fiscal europeu,
o Liechtenstein. O escândalo apareceu como crime, sim, mas também
como afronta, uma vez que deixou expostos ao mesmo tempo os altos
salários dos novos gerentes do património privado e a corrupção
reinante entre a burguesia, isto no momento em que os trabalhadores
alemães se empenham em lutas salariais em busca da recuperação do
poder aquisitivo perdido nos últimos anos.
O
povo alemão mais se revoltou, quando tudo passa ao conhecimento
público no exacto momento em que a administração do país diz ser
preciso cortar serviços públicos e direitos trabalhistas para
reactivar a economia.
E
o escândalo veio à tona graças ao acaso. Um ex-funcionário do
maior banco do principado europeu de Liechtenstein, o LGT, de
propriedade da família real, vendeu para a agência alemã de
espionagem alguns DVDs com dados de 1.400 clientes, muitos clientes
graudos, que possuem contas clandestinas nesta instituição
financeira.
As
autoridades alemãs já iniciaram nada menos do que 160 investigações
criminais contra empresários e gerentes de inúmeras empresas que
operam no país. Em menos de um mês foram recuperados 28 milhões de
euros, mas o grosso dos 4 milhões dinheiro ao erário publico, deve
ficar mesmo no ralo.
Isto
porque o prazo de prescrição para o crime de evasão fiscal é de
simpáticos cinco anos — prazo que o governo alemão não ousa
colocar em xeque.
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