Episódio 5.
... Sou
um filho da cidade, com todos os vícios e virtudes que uma grande
metrópole confere à vida das pessoas. Se juntarmos a vivência
familiar, temos os ingredientes com que nos fazemos e transformamos.
Sou,
igualmente, produto da revolução de Abril de 74. Tinha quatro anos
quando ela aconteceu. No período da meninice e juventude choquei com
os princípios revolucionários, com os ideais de liberdade, muitas
vezes exacerbados, vividos nos limites da causa. Meus pais, antes da
euforia revolucionária, eram débeis, indiferentes e desanimados com
a vida. Mesmo depois, nunca senti união entre eles, nem qualquer
esforço feito nesse sentido. Conscientemente ou não, destruíram-se
mutuamente. O silencio era a nota dominante, de corações fechados
às sensações.
Comigo,
filho único desta relação, iludiam os conflitos e, possivelmente,
a dor e a tristeza que os foi consumindo. De crise
em crise matrimonial nasceu a catástrofe. Sobrevalorizaram-na,
porque fugiam dela. Não souberam descobrir a oportunidade de
renovação que ela encerra em si mesma, permitindo o amadurecimento
do amor.
Acabaram
em zanga e divorciados e eu, atirado para um colégio interno onde
cresci ao sabor de uma disciplina fugaz e comprometida com os tempos
que se viviam.
(siga os próximos capítulos)
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