Episódio 16.
Lentamente,
foi acalmando e há um momento em que se solta do abraço. Tinha a
cara numa lástima com enormes olheiras e o rosto mesclado de branco
e fios grossos esborratados de negro.
-
Desculpa! Desculpa...Pai!
Fiz-lhe
uma festa na cabeça, alisando-lhe os cabelos revoltos. Não sabia o
mais que fazer.
-
Ontem droguei-me pela primeira com cocaína. Tive uma ressaca tão
má...
Continuei
calado. Entendi ser a melhor posição, deixá-la desabafar, mostrar
o que desejava de mim, para depois saber como actuar.
-
Desculpa contar-te, mas preciso de tirar
a tampa.
Antes, em Lisboa, só duas ou três vezes tomei anfetaminas,
normalmente afogava-me em álcool. Acho que nunca me tornei
dependente apesar de todos os dias ingerir razoável quantidade. Mas
nunca foi como ontem. Não calculas a euforia que senti quando tomei
uma pequena dose mas, depois, passados minutos quis mais... meu corpo
exigia mais e mais... Tenho medo de não resistir! Não quero ser uma
drogada...
E
atira-se a meus braços. Chora, de novo, convulsivamente.
-
Que faço, Pai? – exclama no meio dos soluços.
-
Que te mantenhas agarrada a mim, que sintas que sou capaz de te
proteger, se o desejares.
-
Eu quero, Pai! …há tanto tempo que precisava de um pai...
-
Tens-me aqui! Disponível, interessado em te conquistar. Ser teu
Pai... Desculpa a minha ausência em todos estes anos.
Maria
manteve-se deitada no meu colo bastante tempo. Soluçava e ria, na
sua cara manifestava-se um rio de emoções.
(episódio seguinte, dentro de pouco...)
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