Episódio 15.

... Bati à porta do quarto e recebi um “entre”. Maria estava deitada sobre a cama não desfeita, vestida, julgo que com a mesma roupa que ontem exibia. “Acho”.
- Tens aqui o almoço!
A minha voz tremeu um pouco e, não sei se por isso ou por perceber que era eu que estava ali, levantou a cabeça e olha-me. Não entendi se com vergonha mas, de certeza, admirada. Ao mesmo tempo, quis percepcionar um lampejo de alivio na voz que me respondeu:
- Pai...? Obrigada, estou precisando de comer alguma coisa... Está agradecendo algo pela primeira vez”.
Aproximei-me da cama, pousei o tabuleiro sobre a colcha revolta e, sentei-me na borda.
Os primeiros segundos foram de silencio. Estávamo-nos avaliando mutuamente. Ela, de olhos sobre a almofada eu, a medo, mirando sua face mais branca que nunca. Hesitei sobre as primeiras palavras a desferir, não queria que fossem entendidas como recriminação, desejava-as de amor. “Mas como fazê-lo?”.
- Posso arranjar-te a comida? - disse o mais suavemente possível.
Tive como resposta um cruzar de olhos, de faces macilentas. Não tive tempo de pensar que tipo de resposta viria. Respondeu com um muito ligeiro sorriso, difícil de entender perante a tristeza evidenciada, um silencio inexpressivo, primeiro..., uma cara desfazendo-se em redobrada tristeza, um choro convulsivo, em seguida...
As lágrimas caíam de quatro a quatro, molhando a sua face branca, fazendo sulcos na pintura, tombando na almofada que apertava contra o peito, em desespero.
Nada mais fiz que abrir meus braços, pôr as mãos nos seus ombros enquanto meus olhos a convidavam a aninhar-se em mim. Ela não viu a minha suplica mas atirou-se, literalmente, para meu peito. Chorou largos minutos.

(mais uns momentos... outro)

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