Episódio 14.

Foi, então, que senti a mão de Amélia pousada suavemente sobre a minha. Assim a colocou, assim ficou. Só momentos depois, dei conta daquele pequeno peso emanando calor. Reagi, a medo, depositando a minha outra mão sobre a dela, como desejando criar um elo, sem a olhar directamente. Foi como um acto de amor, de namoro, de conquista. Meu ser interior paralisou, acusando o momento mágico da procura de Amélia de algo de um pai há muito banido da sua convivência. “Meu Deus, sinto o meu coração saltando!”
Atrevi-me a centrar meus olhos na sua cara. Os dela esperavam-me, com ansiedade. Expressou um tímido sorriso. Voltei a reagir, a medo:
- Porquê essa angustia?
- Estás a ver aqueles rapazes ali em frente? Têm os olhos postos em mim, desde que aqui cheguei. Não gosto!
Levantei a cabeça e fisguei os seus olhares. Perceberam a minha insistência e desviaram a atenção para outro lado.
- Já pararam, minha filha!
Inclinei-me e ao seu ouvido disse baixinho:
- Esta gente não está habituada a ver uma moça bonita como tu! Perdoa-lhes.
- Obrigado, Pai!
Retirou a mão, aliado agora a um franco sorriso. “Marquei pontos, graças a Deus”.
Ao sairmos da gelataria tive o prazer de sentir, de novo, Amélia a colocar a sua mão na minha, como que procurando protecção. Saímos da sala de mão dada e só a retirou quando chegámos ao carro com um inaudível, “obrigado, Pai”.

(segue-se novo episódio)

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