As flores da vida

Saída do murmúrio fresco da terra,

a Primavera irrompeu da cúpula celeste

como que os Deuses tivessem dissipado a maldição

que emudecia as aves,

no rigoroso Inverno passado.

O vento frio que feria a pele dos aldeões,

esfumou-se levado pelos automóveis na estrada

onde serpenteavam, até então, no frio da madrugada.

As árvores abandonavam a letargia invernal

quebrando a inquietude do inacabado.

A nostalgia da repetição renovada da vida

evidencia a saudade da memória da estética

da lei da natureza.

Conheci, hoje, esse instante majestoso,

do nascimento de uma flor no meu jardim.

Minha respiração suspendeu-se naquele instante,

único da minha existência.

Devagar,

minha pulsação regressou ao ritmo inicial

depois daquela explosão da vitrina de emoções.

A Primavera invadiu minha vida pela primeira vez,

meus olhos abriram-se à natureza,

numa troca de palavras silenciosas

como cartas no momento do reencontro de dois amantes.

À porta de casa,

tudo isto me impedia de transpor o limiar.

A magia da Primavera,

o perfume do campo,

aquela brisa matinal motivadora,

forçava-me à contemplação.

Tudo o que tinha a fazer,

quis adiar para amanhã.

E amanhã,

tenho a certeza,

será adiado para o dia seguinte.

Até, finalmente, esquecer

qual o objectivo que me impedia de contemplar

o renascer de flor a flor,

em todos os canteiros do meu jardim.

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